segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Claques


CRONOLOGIA:
Nasce em 1976 no Sporting: a Juventude Leonina, então com o forte impulso dos filhos do presidente leonino da altura, João Rocha.
Em 1982, é a vez do Benfica ter pela primeira vez uma claque, os Diabos Vermelhos, nascida entre um grupo que costumava ver os jogos na zona central do segundo anel do antigo Estádio da Luz;
No FC Porto, a primeira experiência de claque teve o nome de Dragões Azuis, fundada em 84.
A Torcida Verde, que em tempos ainda tentou estar junta com as já existentes Juventude Leonina e Força Verde, tornou-se autónoma em 1984 e assim se mantém até hoje.
os Super Dragões surgiram em 1986 de um grupo de dissidentes da Dragões Azuis, que entretanto foi extinta;
os No Name Boys, que se chegaram a chamar Diabos Vermelhos do Sul, pela bancada de ocupavam na Luz, foram fundados em 1992.
Mais tarde surgiriam outros grupos como o Coletivo Ultras 95 ou o Diretivo Ultras XXI

CASO MAIS GRAVE:
O grande caso de violência, e que acabou por marcar o futebol português nos anos 90 depois da queda do varandim em Alvalade, O Caso do Very Light em 1996 na final da Taça de Portugal do Jamor. Rui Mendes foi atingido com um “very light” enviado da bancada oposta, depois do 1º golo do Benfica.
Mais tarde conseguiu identificar-se o autor do disparo fatal que sobrevoou o campo de um topo ao topo, Hugo Inácio. Foi condenado a cinco anos de prisão, acabou por conseguir fugir da cadeia do Linhó, foi de novo detido em fevereiro de 2011 mais de uma década depois, cumpriu o resto da pena em falta e, no final de 2012, foi de novo detido pela polícia por ter provocado ferimentos a um polícia no Estádio da Luz após o arremesso de uma cadeira.
Tratava-se, claramente de alguém que tinha problemas não só emocionais, como tendência para a violência e o desacato.







OS NÚMEROS:

In DN

O futebol é um jogo de emoções e às vezes existem atitudes irracionais de pessoas ditas normais. Temos hoje quase 20 claques legalizadas, mas os grupos identificados são quase 100”, diz uma fonte da polícia.
A Polícia tem, porém, sérias dúvidas de que o registo seja fiel à realidade. “Nem todos estão identificados, muitas vezes eles próprios não sabem quantos são”, salienta a mesma fonte policial.

A VIOLÊNCIA
A PSP tem identificados 2219 adeptos envolvidos em situações de violência no futebol. Destes adeptos referenciados pelas autoridades, apenas 19 estão interditados de entrar nos estádios, sendo oito deles são casuals.

Os mais infratores:
Na sua intervenção no Parlamento, o Super Intendente, Luís Simões revelou que cerca de 84% dos "infratores" pertencem aos três grandes, com os adeptos do Benfica no topo a serem responsáveis por 37,2% dos casos, seguidos do Sporting (27,8%) e do Porto (18,8%). Os bracarenses e vimaranenses seguem-se no "triste ranking" como lhe chamou o oficial superior da PSP.


Os Adeptos proibidos:
Não temos muitos adeptos proibidos de entrar em recintos desportivos, em comparação com o que acontece em Espanha, mas existe um problema comum – ou esses elementos se apresentam numa esquadra à hora do jogo ou podem mesmo entrar no estádio, porque é impossível detetar meia dúzia de indivíduos em jogos com assistências de 50 mil pessoas”
O acompanhamento das claques é feito pelas polícias e em muitos casos, há contacto directo de alguns elementos da polícia com membros dessas claques. Casos há, de amizades que surgem dessa proximidade e/ou de conhecimento mutuo de outros contextos, nomeadamente por serem das mesmas áreas de residência, terem frequentado os mesmos estabelecimentos de ensino ou de amizades comuns.

Caso específico - SPOTTERS:
Muitos dos spotters já conhecem e bem os principais elementos e líderes das claques, tendo em alguns casos boas relações, de confiança, o que também ajuda no trabalho – e terão desde logo definidas as áreas de serviço e as zonas das mesmas onde poderão parar. Pessoalmente, sou amigo de 3 spotters e um deles á um dos bons amigos que tenho desde à muitos anos. É Inspetor da PJ há  mais de 15 anos e é igualmente Spotter do Benfica, fruto de ser ex-membro da claque e do largo conhecimento de muitos membros da velha guarda das claques do Benfica. É mais um elo de conectividade entre polícia, claque e clube, no que diz respeito a organização e segurança.

LEGISLAÇÃO
O que diz a lei:
"1 - É obrigatório o registo dos grupos organizados de adeptos junto do IPDJ, I. P., tendo para tal que ser constituídos previamente como associações, nos termos da legislação aplicável ou no âmbito do associativismo juvenil."

Todo o conceito de “grupo organizado” é vago e absurdo, pois não há um cabal esclarecimento do que é para o legislador um “grupo organizado”. Não existe uma definição legal deste conceito e assim sendo, não se pode atribuir uma designação a algo que não se pode denominar.

Depois há o contrassenso da Constituição da República afirmar no artigo 46 da Constituição Portuguesa, no seu ponto 3: 

"3. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação nem coagido por qualquer meio a permanecer nela."

Todos os que se deslocam aos estádios com amigos, muitos ou poucos, são grupos organizados. Se eu ou qualquer outro regularmente vamos ao futebol com um grupo de amigos/conhecidos, era só o que faltava que a lei viesse agora obrigar-nos a qualquer registo para o fazermos. Imaginem agora a malta do Mega Bar, ter de constituir uma claque organizada só porque vão todos juntos ao mesmo local.

Depois há o ponto que mais tem sido atacado na lei do IPDJ: Ponto “2 - O incumprimento do disposto no número anterior veda liminarmente a atribuição de qualquer apoio, por parte do promotor do espetáculo desportivo, nomeadamente através da concessão de facilidades de utilização ou cedência de instalações, apoio técnico, financeiro ou material.“

Ora é aqui que as claques do Benfica são diferentes das demais. Não direi que todos, mas a esmagadora maioria dos membros das claques, são SÓCIOS do clube. Assim sendo, têm vantagens que daí advém, como todo o associado. Até ao ano passado havia o Comboio Benfica, tem desconto em bilhética (sendo que os NN por exemplo mostraram já o seu Red Pass várias vezes) e descontos dos mais variados. Quanto ao Apoio Técnico, tenho alguns conhecidos (que não são das claques) que por mais de uma vez, solicitaram a entrada de tarjas, bandeiras e faixas e, desde que informados previamente, o Benfica sempre autorizou. Ou seja, muito do apoio que os outros clubes nos acusam de dar às claques, é um apoio que todos os sócios podem ter. Depois há quem fale das bandeiras gigantes e assim… Ok, as claques têm bandeiras enormes, exibem símbolos das claques… mas as bandeiras são previamente autorizadas e os símbolos… há uma marca que produz roupa com o 1904 por exemplo…todos os que vestirmos essa marca, somos de uma claque? Lá está, o conceito também é demasiado vago.

Depois há pontos que nenhum dos legais cumpre:
Artigo 15
"3 - O registo (…) é atualizado sempre que se verifique qualquer alteração quanto aos seus filiados e pode ser suspenso pelo promotor do espetáculo desportivo no caso de incumprimento do disposto no presente artigo, nomeadamente nos casos de prestação de informações falsas ou incompletas no referente ao n.º 1."
Será que são informadas todas as alterações? Será que o tipo proibido de entrar em recintos desportivos (o tal jogador do Canelas) foi informado ao IPDJ? Ou os membros do ataque a Alcochete? Não, claro que não!

Artigo 16
"3 - Nos espetáculos desportivos integrados em competições desportivas de natureza profissional ou não profissional considerados de risco elevado, nacionais ou internacionais, os promotores dos espetáculos desportivos não podem ceder ou vender bilhetes a grupos organizados de adeptos em número superior ao de filiados nesses grupos e identificados no registo referido no n.º 1 do artigo anterior, devendo constar em cada bilhete cedido ou vendido o nome do titular filiado."
Ora se ao número que dei atrás são os legais, porque é que se dá às claques legais mais bilhetes? Então o grupo organizado de adeptos cresceu?! E onde estão os bilhetes com o “nome do titular filiado”? É que das inúmeras vezes que são postadas fotografias de bilhetes das claques, nenhum tem nome!

A Claque ilegal da Selecção:
Fernando Madureira, que liderou a claque de apoio à Seleção Nacional no Portugal-Hungria, disputado no Estádio da Luz, garante que o processo de legalização claque foi iniciado. "Não é uma claque oficial mas está a trabalhar-se nesse sentido. Já foram apresentadas propostas à Federação e estamos a seguir os trâmites legais para a legalização das claques – Isto em Maio de 2017
Ou seja, a Claque da Seleção, que foi ao Europeu era ilegal. Neste jogo, no Estádio da Luz, o organizador era a Federação Portuguesa de Futebol, estava uma claque Ilegal. Mas Madureira avança, “neste jogo queríamos cerca de 500 bilhetes, mas só nos arranjaram 160. O que depois fizeram foi venderem-nos bilhetes para a mesma bancada para que ficássemos todos juntos…” ou seja, usa-se o argumento do Ponto 2 do Regulamento do IPDJ e mostra-se que “foram concedidas ventagens”.

Neste aspecto o IPDJ defende uma lei que tem demasiados pontos vagos e que se traduz por um aproveitamento das lacunas da lei, como se costuma dizer. Os denominados “grupos organizados de adeptos” são um termo demasiado vago, e nele se incluem o Grupo do Facebook ao qual pertenço e onde já vi jogos do Benfica que tem faixas, cachecóis, camisolas e tudo, como inclui o Grupo que se junta na roulotte e vai junto ver o jogo, como se incluem as ditas claques.
O IPDJ, não pode querer que se cumpra a lei nas claques do Benfica e depois deixar o supostos legais prevaricar. Todos sabemos que os Super Dragões não são só 740, que existem mais membros da Torcida Verde por exemplo ou que claques como os Insane Guys, Suspeitos do Custume ou Bracara Legion existem… Todos sabemos que os dados, mesmo dos que estão informados, não estão actualizados; todos sabemos que são concedidas vantagens a muito mais adeptos do que apenas aos que estão legalizados; todos nós sabemos que os bilhetes das claques não vêm devidamente identificados com o nome do adepto como manda a lei…
O que o IPDJ deveria fazer, era trabalho de campo, articulado com as Polícias e tentar compreender as claques e o que os rodeia. Até a Federação percebeu que os Estádios precisam de claques e de adeptos que puxem pelos seus, daí procurar fazer uma claque da seleção (que embora não concorde como foi feita, entendo). Agora, não pode o IPDJ querer e procurar castigar o Benfica por causa dos seus adeptos e ignorar que há muito mais claques ilegais, que há muito mais ilícitos nas claques ditas legais e pasme-se… a claque da Federação Portuguesa de Futebol não está legal…